Um argumento foi apresentado pelos cristãos: dizem que que o Todo
Poderoso rejeitou a nação israelita, porque os judeus não quiseram ouvir os
ensinamentos do Messias, seu mensageiro, portanto juízo foi executado sobre
eles. O Senhor, dizem eles, escolheu a nação cristã, e permitiu a
Cristo sofrer o martírio por causa dessa nação, para a salvação de suas almas,
por terem reconhecido o Messias e colocado fé nele.
REFUTAÇÃO:
Este argumento é improcedente. Os
próprios cristãos admitem que antes da vinda de Jesus, eles (como gentios) negaram
o Todo-Poderoso, e eram idólatras. Mesmo depois de sua vinda, Jesus não foi
recebido como um Deus, nem tido como tal até algumas centenas de anos após sua
existência. Os próprios gentios perseguiram-no a ele, seus discípulos,
apóstolos e seguidores. Nero, o imperador de Roma, por exemplo, fez com que
Pedro e Paulo sofressem uma morte não natural, por conta de seus esforços para
persuadir e incitar o povo a crer em Jesus. Décio, o imperador romano, fez, num
espírito semelhante, com que Laurêncio fosse queimado vivo no ano 254 da era comum,
por ter convencido as pessoas a abraçarem o cristianismo. Assim agiram todos os
imperadores que o sucederam; perseguiram os cristãos, mataram os papas e os que
seguiam a religião de Jesus, como pode-se constatar a partir de suas histórias
eclesiásticas. O primeiro imperador bizantino que adotou a fé cristã foi
Constantino, que estabeleceu leis para seus correligionários 300 anos após a
morte de Jesus. Nos seus dias viveu Ário, que compôs uma obra polêmica contra
os dogmas cristãos, mas Constantino não deu ouvido às suas opiniões. Após a
morte deste monarca, Constantino Segundo ligou-se à seita de Ário, e menosprezou
as doutrinas estabelecidas. Juliano, seu sucessor e parente, igualmente aderiu
às opiniões arianas, e rejeitou os princípios gerais da Fé Cristã. Seu exemplo
foi imitado por vários de seus sucessores. Há, mesmo em nossos tempos, pessoas
que reconhecem a autoridade de Ário, e que constituem a seita chamada pelo seu
nome. A rejeição original do Cristianismo por parte dos gentios também é notada
entre os antigos habitantes da Prússia; quando o bispo Adalberto de Praga veio
a eles para instruí-los em sua religião, no ano 990 da era cristã, eles o cortaram
em pedaços. Os prussianos e poloneses não se converteram à religião cristã
antes do século XI, e os escandinavos não até depois do ano 1400 da era comum,
como se afirma na história eclesiástica.
A maioria dos seguidores do
cristianismo continuam, mesmo nos dias de hoje a adorar em seus locais de
imagens de culto de ouro e prata, madeira e pedra, e muitos deles mostram
reverência divina ao biscoito, ou hóstia, prostrando-se ante ele. Essas
práticas mantêm-se em contradição com os ensinamentos de Jesus, que
rigorosamente admoestou seus discípulos e apóstolos a se absterem delas, assim
como da alimentação dos sacrifícios oferecidos a ídolos. Também encontramos no
Evangelho que eles são proibidos de comer sangue, ou a carne de animais
estrangulados; essas ordenanças são ignoradas mesmo pelos cristãos mais
escrupulosos. Eles também profanam o verdadeiro dia de sábado, o mandamento
rigoroso que foi mantido por Jesus, e em seguida por seus discípulos e seus
seguidores, durante o período de 500 anos. A partir desse período, a antiga lei
foi substituída pelo convite papal para celebrarem o primeiro dia da semana,
domingo, como o dia sagrado. Daí surge a pergunta: Como eles podem se gabar de
serem a nação preferida, eleita, em recompensa por sua veneração a Jesus, ou
como podem assumir o nome de cristãos, uma vez que não existe entre eles um
único observador dos preceitos Mosaicos, que o próprio Jesus declarou invioláveis?
Além disso, eles desviam de seus estatutos, acrescentando e diminuindo dos
ditames do Evangelho, enquanto este pronuncia maldições severas contra aqueles
que se aventurem a adicionar a suas palavras ou a diminuir das mesmas, como
podemos perceber através das passagens acima referidas, as quais serão
apresentadas mais detalhadamente no capítulo 49 do presente trabalho.
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