sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Parte 1, Capítulo 50 - Adições doutrinárias ao Novo Testamento, sem que haja permissão para fazê-las



Gostaríamos de saber dos cristãos que entendem o Novo Testamento como um substituto da Lei Mosaica como eles poderiam se aventurar a adicionar às doutrinas estabelecidas na referida lei ou diminuir delas, sendo que as denúncias mais graves são pronunciadas contra quem se atreva a adicionar às doutrinas nela contidas ou delas omitir.

Como doutrinas acrescentadas, devemos considerar, em primeiro lugar, o dogma da Trindade. O próprio Novo Testamento nos fornece apenas provas contra a existência de uma Trindade, como já demonstramos no décimo capítulo deste livro.

Em segundo lugar, nós não vemos no Novo Testamento que o próprio Jesus reclamando o título de Deus, ou atribuir-se o poder ilimitado do Todo-Poderoso.

Em terceiro lugar, deve-se perguntar aos membros do Cristianismo que adoram imagens: como podem introduzir um culto que vai contra as proibições rigorosas de Jesus em relação a este assunto? Pois ele proibiu seus discípulos de provarem a carne de animais sacrificados em honra de imagens. A defesa apresentada por aqueles que se curvam às imagens é perfeitamente insustentável. Eles alegam que as imagens apenas recordam à mente a memória dos homens e mulheres santos, e que eles não prestam adoração às suas representações inanimadas. Eles, no entanto, não podem negar que a forma [de adoração] é politeísta, e que, em seu entender, sua genuflexão, prostração e orando diante dessas figuras de santos confere um caráter divino a essas imagens!

Em quarto lugar, os cristãos, ao lançar sobre os judeus a acusação pela morte de Jesus, estão agindo contra a opinião expressa deste, pois, de acordo com Lucas 23, 34, Jesus disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!"!

A ampla margem de manobra para a crueldade que foi dada pelo pressuposto do direito de vingar a morte de Jesus sobre os judeus foi, infelizmente, demonstrada na conduta dos piores entre os homens, que têm acumulado sobre pessoas inofensivas falsas acusações e atos de violência . Iremos agora apontar diversos atos de omissão no cumprimento das ordens de Jesus feitos pelos cristãos:
 
Em primeiro lugar, a não adoção pelos cristãos do preceito de vender sua propriedade e distribuir entre os pobres o dinheiro (Mateus 19, 21 e Lucas 18, 22). Nenhum cristão, até onde sabemos, concorda com esse modo de fazer caridade.

Em segundo lugar, os cristãos não praticam a seguinte advertência, contida em Lucas 6, 35: "Amem, porém, os seus inimigos, façam-lhes o bem e emprestem a eles, sem esperar receber nada de volta" e Mateus 5, 44: "Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que maldosamente se aproveitam de vós e vos perseguem".

Em terceiro lugar, os cristãos aboliram, sem nenhuma permissão, a lei, repetida no Novo Testamento, de que eles deveriam se abster de comer sangue e carne de animais estrangulados, como mostramos no capítulo anterior, citando Atos 15, 29, e 21, 25.

Se os cristãos fogem assim de doutrinas bem definidas do Novo Testamento, eles não podem lançar qualquer censura sobre o judeu que, por motivos de consciência, recusa-se à adesão às novas doutrinas da religião cristã!

Assim, estabelecemos suficientemente nossa objeção ao cristianismo nos diversos argumentos dos capítulos anteriores, em que temos refutadas os ataques feitos por cristãos sobre a fé judaica.

Que o leitor não nos culpe por ter ocasionalmente feito repetições. Nosso desejo não é  multiplicar o volume deste livro, mas apenas a tornar nossos argumentos mais claros e eficazes.

FIM DA PRIMEIRA PARTE

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