Amós 2: 6, "Assim diz o
Senhor: Por três transgressões de Israel, e por quatro, não retirarei o
castigo; porque vendem o justo e o pobre, pelo valor de um par de sapatos."
Alguns escritores cristãos atribuíram esta profecia ao destino de Jesus, que foi vendido por trinta moedas de prata. Eles afirmaram que a quarta transgressão, sendo a venda de um justo, nunca será perdoada a Israel, e a consequência desse pecado tem sido o nosso presente cativeiro.
Alguns escritores cristãos atribuíram esta profecia ao destino de Jesus, que foi vendido por trinta moedas de prata. Eles afirmaram que a quarta transgressão, sendo a venda de um justo, nunca será perdoada a Israel, e a consequência desse pecado tem sido o nosso presente cativeiro.
REFUTAÇÃO:
A interpretação revela uma falta
de devido respeito ao contexto da passagem, assim como às palavras paralelas em
outros profetas. O
versículo acima alude aos três crimes: idolatria, incesto, e homicídio. De
acordo com o texto, a ocorrência desses crimes não seria a principal causa da
expulsão de Israel da Terra Santa, e sim a depravação universal que prevalecia
em todo o país, sendo os líderes mercenários do povo os primeiros a darem o
exemplo iníquo. O
profeta Amós diz, portanto, (capítulo 5,12): "Eles perseguem os justos,
eles tomam um suborno e oprimem os pobres no portão". A
palavra צַדִּיק (justo)
usada no texto não faz qualquer referência ao homem que leva uma vida piedosa,
mas apenas ao homem cuja causa é irrepreensível diante do tribunal de justiça,
e em cujo favor a sentença dos juízes deve ser dada. A
palavra צַדִּיק (justo) aqui tem o mesmo significado que tem em
Êxodo 23, 8, em que é dito que o suborno dado ao juiz "perverte as
palavras dos justos". A
expressão "pois eles oprimem os necessitados por um par de sapatos"
significa que o juiz, pelo suborno mais insignificante, transforma a escala de
justiça, e priva o homem pobre infeliz do seu direito, ao pronunciar a favor da
parte culpada que oferece o
suborno. O
profeta também investe contra os pecadores ricos. Amós
8, 4: "Ouvi isto, vós que anelais o abatimento do necessitado; e destruís
os miseráveis da terra, dizendo: Quando passará a lua nova, para vendermos o
grão, e o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e
aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganosas, Para
comprarmos os pobres por dinheiro, e os necessitados por um par de sapatos, e
para vendermos o refugo do trigo?". Essa
passagem está, na formulação e sentido, intimamente relacionada com a do
capítulo 2, e ambos transmitem a ideia de um processo iníquo de compra e venda.
Notamos,
na citação acima, que a Lua Nova era na época mais rigorosamente observada e
que nela as atividades comuns eram suspensas. A julgar pelas advertências dos profetas,
percebe-se que as pessoas ocupavam-se, nessa celebração, de entretenimento e convívio
sociais. Compare
com I Samuel 20, 5, começando com "Amanhã é lua nova", e com o
segundo livro de Reis 4, 23: "Por que vais hoje a ele [ao profeta], uma vez
que não é nem lua nova, nem sábado". Como
a injustiça descrita no Livro de Amós diz respeito apenas à conduta mercenária
dos superiores em decisões judiciais e com a disposição de compradores e
vendedores em suas várias relações, devemos considerar totalmente inútil
interpretar as palavras de Amós como se aludissem à história de seu suposto Salvador. Além
disso, se o profeta tinha a intenção de fazer qualquer alusão a Jesus, ele
deveria ter atribuído a transgressão às tribos de Judá e Benjamin, únicas que
residiam na Terra Santa nos dias de Jesus, enquanto as dez tribos estavam
espalhadas entre os seus inimigos,
e não poderiam tomar qualquer parte no processo contra Jesus.
Também não se pode afirmar que a expressão: "E pela quarta transgressão não se vai desviar o castigo" transmite o anúncio de que Israel nunca será perdoado pela venda de Jesus, pois encontramos o mesmo modo de expressão aplicada às transgressões de Damasco, Gaza, Tiro, Edom, etc., que não tinham a menor preocupação sobre a venda de Jesus. Quando lemos as Escrituras com a devida atenção, chegamos à convicção oposta à opinião dos cristãos a respeito de nossa condenação eterna. Veja, por exemplo, as seguintes passagens: Salmo 130, 8: "E Ele vai resgatar Israel de todos os seus pecados", Jeremias 33, 8: "E eu vou purificá-los de todas as suas iniquidades que cometeram contra mim e perdoarei todas as suas iniquidades, com que pecaram e se rebelaram contra mim". No mesmo livro (capítulo 50, 20), lemos: "Naqueles dias e naquele tempo, diz o Senhor, a maldade de Israel será procurada, e não será vista; e os pecados de Judá, e eles não serão encontrados, pois perdoarei todos aqueles que permanecerem".
Nenhum comentário:
Postar um comentário