quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Parte 1, Capítulo 31 - Anunciada a traição de Judas a Jesus pelo preço de 30 peças de prata (Am 2, 6)?



Amós 2: 6, "Assim diz o Senhor: Por três transgressões de Israel, e por quatro, não retirarei o castigo; porque vendem o justo e o pobre, pelo valor de um par de sapatos."

Alguns escritores cristãos atribuíram esta profecia ao destino de Jesus, que foi vendido por trinta moedas de prata. Eles afirmaram que a quarta transgressão, sendo a venda de um justo, nunca será perdoada a Israel, e a consequência desse pecado tem sido o nosso presente cativeiro.


REFUTAÇÃO:

A interpretação revela uma falta de devido respeito ao contexto da passagem, assim como às palavras paralelas em outros profetas. O versículo acima alude aos três crimes: idolatria, incesto, e homicídio. De acordo com o texto, a ocorrência desses crimes não seria a principal causa da expulsão de Israel da Terra Santa, e sim a depravação universal que prevalecia em todo o país, sendo os líderes mercenários do povo os primeiros a darem o exemplo iníquo. O profeta Amós diz, portanto, (capítulo 5,12): "Eles perseguem os justos, eles tomam um suborno e oprimem os pobres no portão". A palavra צַדִּיק (justo) usada no texto não faz qualquer referência ao homem que leva uma vida piedosa, mas apenas ao homem cuja causa é irrepreensível diante do tribunal de justiça, e em cujo favor a sentença dos juízes deve ser dada. A palavra צַדִּיק (justo) aqui tem o mesmo significado que tem em Êxodo 23, 8, em que é dito que o suborno dado ao juiz "perverte as palavras dos justos". A expressão "pois eles oprimem os necessitados por um par de sapatos" significa que o juiz, pelo suborno mais insignificante, transforma a escala de justiça, e priva o homem pobre infeliz do seu direito, ao pronunciar a favor da parte culpada que oferece o suborno. O profeta também investe contra os pecadores ricos. Amós 8, 4: "Ouvi isto, vós que anelais o abatimento do necessitado; e destruís os miseráveis da terra, dizendo: Quando passará a lua nova, para vendermos o grão, e o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganosas, Para comprarmos os pobres por dinheiro, e os necessitados por um par de sapatos, e para vendermos o refugo do trigo?". Essa passagem está, na formulação e sentido, intimamente relacionada com a do capítulo 2, e ambos transmitem a ideia de um processo iníquo de compra e venda. Notamos, na citação acima, que a Lua Nova era na época mais rigorosamente observada e que nela as atividades comuns eram suspensas. A julgar pelas advertências dos profetas, percebe-se que as pessoas ocupavam-se, nessa celebração, de entretenimento e convívio sociais. Compare com I Samuel 20, 5, começando com "Amanhã é lua nova", e com o segundo livro de Reis 4, 23: "Por que vais hoje a ele [ao profeta], uma vez que não é nem lua nova, nem sábado". Como a injustiça descrita no Livro de Amós diz respeito apenas à conduta mercenária dos superiores em decisões judiciais e com a disposição de compradores e vendedores em suas várias relações, devemos considerar totalmente inútil interpretar as palavras de Amós como se aludissem à história de seu suposto Salvador. Além disso, se o profeta tinha a intenção de fazer qualquer alusão a Jesus, ele deveria ter atribuído a transgressão às tribos de Judá e Benjamin, únicas que residiam na Terra Santa nos dias de Jesus, enquanto as dez tribos estavam espalhadas entre os seus inimigos, e não poderiam tomar qualquer parte no processo contra Jesus.

Também não se pode afirmar que a expressão: "E pela quarta transgressão não se vai desviar o castigo" transmite o anúncio de que Israel nunca será perdoado pela venda de Jesus, pois encontramos o mesmo modo de expressão aplicada às transgressões de Damasco, Gaza, Tiro, Edom, etc., que não tinham a menor preocupação sobre a venda de Jesus. Quando lemos as Escrituras com a devida atenção, chegamos à convicção oposta à opinião dos cristãos a respeito de nossa condenação eterna. Veja, por exemplo, as seguintes passagens: Salmo 130, 8: "E Ele vai resgatar Israel de todos os seus pecados", Jeremias 33, 8: "E eu vou purificá-los de todas as suas iniquidades que cometeram contra mim e perdoarei todas as suas iniquidades, com que pecaram e se rebelaram contra mim". No mesmo livro (capítulo 50, 20), lemos: "Naqueles dias e naquele tempo, diz o Senhor, a maldade de Israel será procurada, e não será vista; e os pecados de Judá, e eles não serão encontrados, pois perdoarei todos aqueles que permanecerem".

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