Isaías 64, 5 (nas versões cristãs, versículo 6): "E
todos nós somos como um homem imundo, e toda a nossa justiça como uma roupa
podre e murchos como a folha, e as nossas iniquidades nos levam para longe como
um vento". Um cristão uma vez se dirigiu a mim nos seguintes termos: -
"Não há um homem sobre a terra que faça o bem e que não peque! Você deve
saber muito bem que não há um homem capaz de observar todos os mandamentos
prescritos nas leis de Moisés; os atos humanos de justiça não permitem que a
criatura atinja o fim que você procura. Quão ineficiente, então, devem ser as
orações e as ações dos ímpios!
RESPOSTA:
Nós certamente devemos admitir que nenhum homem pode alcançar
a salvação através de seus próprios atos por si só; mas o homem deve combinar
com sua piedade a submissão total à misericórdia e bondade do Senhor. Jeremias
anuncia claramente (capítulo 30, 21): "(...) e Eu o farei aproximar, e ele
se chegará a mim; pois, quem de si mesmo se empenharia para chegar-se a mim?
diz o Senhor.”
O salmista diz, de maneira semelhante (Salmo 65, 5):
"Bem-aventurado o homem a quem Tu escolhes e fazes estar perto de Ti, para
que ele possa habitar em teus átrios". Portanto, ele reza (no Salmo 79,
9), "Ajude-nos, ó Deus da nossa salvação, por causa da glória do Teu nome,
e livra-nos e perdoa-nos os nossos pecados, por causa do teu nome". No
Salmo 25, 11, o poeta sagrado diz: "Por causa do teu nome perdoa-nos as
nossa iniquidade, pois é grande". Mais uma vez, no Salmo 115, 1: "Não
a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua
benignidade, e por causa da tua fidelidade". Mais uma vez, no Salmo 143,
11: "Vivifica-me, ó Senhor, por amor do teu nome; por amor da tua justiça,
tira a minha alma da angústia". No Salmo 44, 27, ele exclama:
"Levanta-te e livra-nos por causa de Tua benevolência, com a grandeza da
tua benignidade, apaga as minhas transgressões". E no Salmo 80, 4, implora
o Todo-Poderoso: "Retorna a nós, ó Deus, e faze com que Teu rosto brilhe
sobre nós e seremos salvos". Assim diz, também, o profeta Jeremias (14, 7):
"Pois as nossas maldades testificam contra nós, age, ó Deus, por causa do
teu nome", e mais [Jr 14,21]: "Por Teu nome não nos rejeites". Nas
Lamentações (5, 21), ele diz: "Faça-nos, Senhor, retornar a Ti e seremos
convertidos". Daniel, na sua oração (9, 18-19) usa linguagem semelhante:
"Porque não por conta da nossa justiça derramamos nossas súplicas diante
de Ti; mas, por causa de Tuas misericórdias, ó Senhor, ouvi-nos, ó Senhor,
perdoa-nos, ó Senhor, atende-nos. Não te atrases, ó Deus, por Ti mesmo, pelo
Teu nome é chamada a Tua cidade e o teu povo". Numerosas outras passagens
poderiam ser citadas, todas a transmitir a mesma ideia.
Daí o Todo-Poderoso nos deu a garantia, através de seus
profetas, de nos livrar de nosso cativeiro, e desfazer nossos pecados e iniquidades,
não por nossa causa, mas por Sua própria causa. Assim, Isaías diz: (48, 11)
"Por Minha causa, para o Meu próprio bem eu vou fazê-lo". No capítulo
43, 25, o mesmo profeta diz: "Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas
transgressões, por meu amor, e dos teus pecados não me lembro". Isso se
expressa, também, por Ezequiel 36, 22: "Não por tua causa, ó casa de
Israel, estou lidando assim, mas pelo Meu Santo Nome". Nós encontramos no
mesmo livro, capítulo 20, 44: "E sabereis que eu sou o Senhor, pela minha ação
por causa do meu nome, e não de acordo com os seus maus caminhos e as vossas
ações corruptas, ó casa de Israel, diz o Senhor Deus". Podemos citar aqui,
também, as palavras de Jeremias (31, 37): "Assim diz o Senhor: Se os céus
acima forem medidos ou os fundamentos da terra forem pesquisados, também eu rejeitarei
a semente de Israel, por tudo que eles têm feito". Esta declaração divina
confirma claramente a nossa opinião de que a nossa salvação não depende
exclusivamente de nosso mérito individual imperfeito e nossa justiça, mas da
misericórdia do Deus Fiel, que nunca vai mudar, embora possamos ser encontrado
indignos diante dele!
A expressão do profeta: "Estamos todos imundos, e todas
as nossas virtudes são como uma peça de roupa podre" faz referência às
obras religiosas como são realizados através de vanglória e motivos egoístas, a
fim de criar inveja entre os nossos vizinhos. O texto é bastante evidente em
afirmar que as melhores ações devem desagradar o Todo-Poderoso quando elas se
originam a partir de motivações vulgares; "pois o Sondador dos corações",
dizem nossos sábios "leva em conta apenas as intenções". Daí a
exortação em Deuteronômio 15, 10: "Fornece-lhe liberalmente, que o teu
coração não seja vexado enquanto tu dás". E no capítulo 28, 47, lemos:
"Porque tu não serviste ao Senhor teu Deus com alegria e com um coração
alegre". A passagem acima, "Estamos todos imundos, e toda a nossa
justiça é como uma peça de roupa podre", refere-se, portanto, à conduta
censurável e intenções impuras daqueles que de modo egoísta trabalham na causa
do Todo-Poderoso e que, como as folhas caindo da árvore são levados pelo vento,
de modo que, em consequência de nossos pecados, estamos dispersos por todo
todos os quadrantes do globo.
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