Muitos
cristãos ensinam que a Lei mosaica não foi estabelecida permanentemente, mas
apenas por um período limitado, tendo sido totalmente revogada por Jesus, que
legou aos seus discípulos e seguidores uma nova lei que os dispensava de se
conformarem com a Lei Mosaica e seus antigos estatutos e decretos. Os cristãos
alegam que mediante a Lei antiga os israelitas foram entregues ao poder da
morte, enquanto a nova dispensação representa a lei da graça e é mais fácil de
praticar. Os mandamentos dados, dizem eles, eram tão rigorosos que ninguém
podia observá-los adequadamente. Daí veio que as leis fundamentais, como a
circuncisão e as observâncias do sábado e festas eram apenas temporários, e
continuaram apenas até a época da vinda de Jesus, o Nazareno, que imediatamente
substituiu a circuncisão pelo batismo e a consagração do primeiro dia da semana
em vez do sétimo.
Refutação: Esta afirmação dos cristãos é falaciosa. O próprio Evangelho refuta a opinião deles, pois em Mateus 5, 17-20 Jesus diz aos seus discípulos: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim revogar, mas cumprir; porque verdadeiramente digo-vos: até que o céu e a terra passem, um jota ou um til não passará da Lei até que tudo seja cumprido. Portanto, aquele que violar um destes mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus, mas aquele que os praticar e ensinar será chamado de grandioso no reino dos céus”.
Os
próprios cristãos devem admitir que Jesus e seus apóstolos foram circuncidados;
pois descobrimos que Paulo circuncidou seu discípulo, Timóteo, como está
registrado em Atos 16, 3, fato que prova, de acordo com sua própria declaração,
que a lei não foi abolida mesmo após a morte de Jesus. O sétimo dia também foi
mantido sagrado pelos fundadores da religião cristã e seus discípulos. O sábado
foi observado (o tradutor ao inglês refere-se ao livro de Festas e Jejuns
publicado em 1825) por quase 500 anos depois da era comum, quando um dos papas
instituiu a santificação do primeiro dia da semana em vez do dia apropriado, o
sétimo.
O sétimo dia não foi meramente instituído como uma lei cerimonial, prescrevendo-nos a cessação de todo trabalho, mas deve ser considerado universalmente sagrado pela palavra expressa do Todo-Poderoso: “Lembre-se do dia de sábado para santificá-lo” (Ex 20, 8). Veja também Ex 16, 29: “Eis que o Senhor vos dá o sábado; por isso, ele vos dá, no sexto dia, alimento para dois dias”. O suprimento de maná durante os seis dias da semana e a distribuição do dobro da quantidade no sexto dia proporcionam uma confirmação divina miraculosa da santidade do sábado.
Portanto,
a Divina Ordenança do Sábado não pode ser revogada, constituindo um mandamento
incluído no Decálogo, cuja autoridade é reconhecida por todos os seguidores do
cristianismo. Parece, no entanto, que os cristãos têm estado ansiosos por
abolir a lei de Moisés por sua própria vontade e responsabilidade, pois eles
não têm autoridade alguma para fazer isso, nem a receberam de Jesus e dos
apóstolos! Se Jesus realmente os anulou os mandamentos contidos em nossa
Bíblia, por que ele insistiu na observância de uma parte deles? Os cristãos
concordariam que seus precursores pregaram a honra devida aos pais, o amor à
vizinhança e caridade. Jesus os advertiu contra o homicídio, o adultério, o
roubo e o falso testemunho! Veja Mateus 19. Em que base repousa a proibição do
Apóstolo de se abster de idolatria, incesto e comer sangue e estrangular
animais? (Ver Atos 15, 20). Não podemos compreender a afirmação de que a lei de
Moisés deve ser interrompida porque os israelitas haviam sido culpados de morte
de acordo com ela, mas não de acordo com a lei de Jesus, que era chamada de lei
da graça. Paulo não ordenou a morte de alguém que se casasse com a esposa de
seu pai? (Veja 1 Coríntios 5, 1). Mesmo nos dias atuais (época do autor do
livro), os cristãos infligem a morte ao assassino, ao adúltero e ao ladrão. Por
outro lado, segundo a dispensação mosaica, os roubos pecuniários não eram
punidos com a morte! Neste ponto, a prática cristã é mais severa que a Torá!
Veja Êxodo 21, 16, onde se diz: “Quem rapta um homem e o vende, será morto”
etc. Igualmente falsa é a afirmação de que a lei de Jesus é mais fácil de
praticar do que a de Moisés. Em Mateus 19, 21, encontramos: “Se queres ser
perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres”. O mesmo é repetido em
Lucas 18, 22. Isto mostra que é exigido pelas leis de Jesus que o homem deve dedicar
toda a sua propriedade a fins caritativos. A lei de Moisés, no entanto, decreta
que somente a décima parte da colheita deve ter fins caritativos, e o restante
deve ser desfrutado pelo proprietário. Isso prova que o sistema legislativo de
Moisés não é de modo algum opressivo, mas, pelo contrário, serve para
beneficiar tanto o corpo como a alma. Novamente, se os homens foram dispensados
da obediência às leis de Moisés, por que os cristãos e o Novo Testamento
reconhecem algumas das leis sobre consanguinidade e proíbem o intercurso sexual
entre os seguintes seis graus de afinidade, a saber, com a mãe, a esposa do
pai, a irmã, a esposa do irmão, a filha e a esposa do filho? No que diz
respeito a outras relações, os cristãos não são orientados pelas ordenanças
Divinas transmitidas a nós através de Moisés, mas ocasionalmente permitem o
ilícito e proíbem os graus legítimos de parentesco para fins de casamentos.
Os
cristãos parecem aqui abandonar os alicerces sólidos sobre os quais depositamos
nossas esperanças e agir a partir de opiniões que eles mesmos criaram. O
Evangelho não apresenta nenhum código expresso sobre os pontos em questão. Ora,
se as Leis não são mais válidas para determinar a relação de consanguinidade,
por que Jesus não introduziu novos regulamentos em lugar das leis de Moisés?
Nos dias de hoje, os cristãos são parcialmente guiados pelo código mosaico, e
em parte por representações humanas em vários períodos. Eles fazem mudanças e
alterações, acomodando-se aos costumes da época e tornando princípios
estabelecidos subservientes a desejos temporários e inovações arbitrárias. Uma
vez convencidos, como nós israelitas, de que a revelação divina procede da
Sabedoria Infinita e é, portanto, em si mesma, completa e perfeita em seu
objetivo, não podemos admitir qualquer mudança, desvio, adição ou diminuição na
Torá. As Sagradas Escrituras nos advertem sobre este ponto. Deuteronômio 4, 2
afirma: “Toda a palavra que vos mando, observe e cumpra. Não lhe
acrescentareis, nem diminuireis”. Além disso, Deuteronômio 4, 8 observa: “Onde
há uma nação tão grande que tenha tais justos estatutos como toda esta Lei que
eu coloco diante de vocês neste dia? O texto do mesmo livro diz: “Se tu
obedeceres a voz do Senhor teu Deus para observar os seus mandamentos e os seus
estatutos que estão escritos neste livro desta lei” etc. Ainda no mesmo livro
(Deuteronômio 33, 4) lemos: “A lei que Moisés mandou a nós é uma herança da
congregação de Jacó”. A isto acrescentamos as palavras do salmista (Salmos 19,
8-10 [19, 7-9]): “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho
do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são
retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos. O
temor do Senhor é limpo, e permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros
e justos juntamente”. No mesmo livro (Salmo 119, 44) ele diz: “E guardarei os
teus mandamentos para todo o sempre”. Referimo-nos também à conclusão da
profecia de Malaquias, que diz: “Lembrai-vos da lei de meu servo Moisés, que eu
lhe ordenei em Horebe, diante de todo o Israel, (dando-lhes) estatutos e juízos”.
Estes versos dão evidência satisfatória de que a Lei Divina em sua sublime
perfeição e simplicidade não deve ser aumentada ou reduzida, e muito menos ser
revogada e substituída por qualquer outro código. A imutabilidade da Lei é
pronunciada em Deuteronômio 28, 1: “E será que, se ouvires a voz do SENHOR teu
Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno,
o SENHOR teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra”. O mesmo se
repete em uma passagem subsequente, dizendo: “Se queres ouvir a voz do Senhor
teu Deus, observe os seus mandamentos, que estão escritos no livro desta lei”.
Isto
prova manifestamente que as promessas e garantias de bênçãos do Deuteronômio só
serão realizadas desde que sigamos rigidamente os preceitos prescritos nos
livros de Moisés. A expressão “neste dia” aponta a impossibilidade de uma
legislação subsequente e a imutabilidade da Vontade revelada do Todo-Poderoso.
De maneira semelhante, aprendemos da passagem “A lei que Moisés nos deu é uma
herança da congregação de Jacó” que, ao contrário da crença cristã, nenhum
período fora designado para limitar a duração do código Mosaico. A lei de
Moisés deve permanecer uma herança eterna para a congregação de Jacó para
sempre, pois não será esquecida na boca de sua descendência. O termo “congregação
de Jacó” (em vez de casa ou descendência de Jacó) mostra que a Lei não é apenas
uma herança para os filhos de Jacó, mas para todos os que possam se reunir com
eles “dos filhos do estrangeiro” que se unam ao Senhor para servi-lo e amar o
nome do Senhor e ser Seus servos. Todo aquele que guardam o sábado tomam posse
da minha aliança. “Eles devem”, como diz Isaías (14, 1), “se unir a eles e ser
incluídos na casa de Jacó”. A expressão “Todos os Seus mandamentos são seguros,
permanecem firmes para todo o sempre” não é menos uma evidência da eternidade
das leis contidas no Pentateuco. As palavras la‘ád (para sempre) e le‘olám
(eternamente) implicam um curso ininterrupto e interminável de tempo. Concluímos
este capítulo com as palavras do Salmo 148, 6: “E Ele os estabeleceu para todo
o sempre, Ele deu uma ordenança e ela não será infringida”. A passagem “e eu
vou manter Tuas mandamentos continuamente para sempre e sempre” alude a um
período ilimitado pelo tempo. Em conformidade com isto, encontramos em Êxodo 15,18,
as palavras “O Senhor reinará para todo o sempre” (Adonai yimlôkh le‘olám va‘êd). Assim também na exortação do último
dos profetas (Malaquias 3, 22 [4, 4]), lemos: “Lembrai-vos da lei de Moisés,
que lhe ordenei em Horebe acerca de todo o Israel, (dando) estatutos e juízos”.
Daí deduzimos que nunca haverá outra Lei além da Torá. Nós também estamos de
acordo com as autoridades gentílicas que afirmam que a Lei de Deus dada a
Israel é eterna e perfeita, que nenhuma lei posterior foi dada e que aqueles
que estão errados afirmam que Moisés estabeleceu a primeira lei e Jesus a
segunda lei. Jesus não deu nova lei, mas apenas confirmou os mandamentos dados
através de Moisés. Assim, em todos esses pontos doutrinários, eles concordam
conosco.