Hebreus 1, 5-9: " Pois a
qual dos anjos Deus alguma vez disse: "Tu és meu Filho; eu hoje te
gerei"? E outra vez: "Eu serei seu Pai, e ele será meu Filho"? E
ainda, quando Deus introduz o Primogênito no mundo, diz: "Todos os anjos
de Deus o adorem". Quanto aos anjos, ele diz: "Ele faz dos seus anjos
ventos, e dos seus servos, clarões reluzentes". Mas a respeito do Filho,
diz: "O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre; cetro de equidade
é o cetro do teu Reino. Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o
teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com óleo de
alegria".
Os erros do autor desta epístola
são tantos quanto as citações com as quais ele se esforça para confirmar seus
pontos de vista. A (falsa) conexão estabelecida entre Jesus e o sétimo verso do
Salmo 2, "Tu és meu filho, hoje eu te gerei", nós já esclarecemos em
nossas observações sobre Atos 8,33. Nós provamos que Davi aplicou essas
palavras elevadas a si mesmo. Por isso, os cristãos não estão certos ao deduzir
pontos doutrinários deste salmo. A promessa feita em II Samuel 7,14: "Eu
serei para ele como um pai, e ele será para mim como um filho", foi feita
a respeito de Salomão, filho de Davi. Os próprios cristãos não gostariam de associar
estas palavras a Jesus, visto que a profecia contém a predição: "Se ele
cometer iniquidade, castigá-lo-ei com vara de homens e com as ataduras dos
filhos dos homens". Quanto a Jesus, é bem sabido que seus adoradores estão
convictos de que ele nunca cometeu nenhum pecado.
O autor da Epístola finge
descobrir em nossa Escritura que os anjos de Deus estavam destinados a adorar a
Jesus. Encontramos no Salmo 97, 7: "Todos os anjos O adoram", isto é,
aquele de quem se fala é o Senhor de toda a terra. As palavras "O teu
trono, ó Deus, é para todo o sempre", são erroneamente citadas no Salmo 45,
7 [45, 6]. Nós lemos lá “Kissakhá Elo-him”, que significa "Teu trono (é)
de Deus", e não "Teu trono, ó Deus". Assim encontramos em I
Crônicas 29,23: "E Salomão se assentou no trono do Senhor". Tendo o
Senhor o reconhecido rei de Israel, o trono ocupado por Davi e sua posteridade
foi descrito como o trono do Senhor. Este trono deve ser ocupado pelos
descendentes de Davi eternamente. Assim Daniel profetiza, no capítulo 2,44:
"O Deus do céu estabelecerá um trono que não será destruído por toda a
eternidade".
Para estar convencido de que
nossa interpretação está correta, basta que o leitor observe a continuação das
palavras do Salmo 45, 8 [45, 7], "Tu amas a justiça e aborreces a
iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu". Se Jesus é Deus, poderia
o salmista se dirigir a ele com palavras como “o teu Deus”?