Uma vez fui questionado por um estudioso cristão: “Por que vocês judeus
se recusam a acreditar que Jesus Cristo era o Messias, tendo sido dada evidência
a favor dele pelos verdadeiros profetas, em cujas palavras vocês também
acreditam?”
E esta é a resposta que lhe dei: Como é possível acreditarmos que ele
era o Messias, já que não vemos nenhuma prova real de seu messianismo através
dos escritos proféticos? Quanto às passagens que os autores do Evangelho deduzem
citando as palavras dos profetas para demonstrar que Jesus, o Nazareno, era o
Messias, elas em nada se referem a ele, como será mostrado na segunda parte
deste trabalho, na qual iremos, na ordem do texto, apontar as falácias
estabelecidas no Evangelho. Por outro lado, veremos muitas provas
incontestáveis em apoio à nossa convicção de que Jesus não era de modo algum
o Messias. Alguns desses argumentos podem ser aqui introduzidos.
Que ele não era o Messias é evidente:
1- Por sua linhagem;
2 - Por seus atos;
3- Pelo período em que ele viveu;
4- Pelo fato de que, durante sua existência, as verdadeiras promessas
messiânicas não foram cumpridas, sendo que apenas o cumprimento das condições corretas
pode garantir uma crença coerente na identidade do Messias.
Quanto à linhagem de Jesus, ele não era descendente de Davi, sendo
apenas afiliado a ele através de José, como é testificado no Evangelho, pois em
Mateus, capítulo 1, está escrito que Jesus nasceu de Maria durante sua
virgindade e que José não a conheceu até que ela deu à luz a Jesus. De acordo
com essa afirmação, a linhagem de José é inútil para Jesus e, ao mesmo tempo, é
bastante evidente que a ascendência de Maria era desconhecida dos autores do
Evangelho. Mas até mesmo a relação entre José e Davi é carente de prova, havendo
uma discrepância entre Mateus e Lucas quanto ao relato da linhagem, a qual é
evidente quando comparamos o Evangelho de Mateus, capítulo 1, com o de Lucas,
no fim do capítulo 3. Aqui vemos testemunhos conflitantes. Quando esse é o
caso, nenhuma crença pode ser vinculada de modo coerente. Os profetas, ao
contrário, previram que o esperado Messias não deveria ser outro senão um
descendente de Davi.
Quanto às obras de
Jesus, descobrimos que Ele diz de si mesmo (Mateus 10,34): “Não pense que eu
vim para fazer a paz na terra. Não vim enviar a paz, senão a espada, e colocar
um homem em desacordo contra o pai dele, e a filha contra a mãe dela, e a nora
contra a sogra dela”. Por outro lado, encontramos a Sagrada Escritura
atribuindo ao verdadeiro e esperado Messias ações contrárias às de Jesus. Vemos
aqui que Jesus diz de si mesmo que ele não veio para fazer a paz na terra, ao
passo que a Escritura diz do verdadeiro e esperado Messias, em Zacarias 9,10: “E
ele anunciará a paz aos povos” etc. Jesus diz que ele veio para “enviar a
espada sobre a terra”, mas as Escrituras dizem (Isaías 2, 4: “E eles devem transformar
suas espadas em arados e suas lanças em podas; uma nação não levantará espada
contra nação, nem aprenderão mais a guerra”. Jesus diz que veio “para fazer com
que o filho fique contra o pai” etc., mas Malaquias diz (no final de seu livro)
que antes da vinda do verdadeiro Messias, o profeta Elias aparecerá e “converterá
o coração dos pais a seus filhos e o coração dos filhos a seus pais”. Jesus diz
a respeito de si mesmo (Mateus 20, 28) que ele não veio para ser servido pelo
filho do homem, mas para servir aos outros. Quanto ao verdadeiro Messias, no
entanto, as Escrituras dizem (Salmo 72, 11): “Sim, todos os reis se prostrarão
diante dele; todas as nações o servirão”. E Zacarias 9, 10: “O seu domínio será
desde o mar até o mar, e desde o rio até os confins da terra”. Assim também
declara Daniel (7,27): “E todos os governantes devem servi-lo e obedecê-lo”.
Quanto ao período de
sua existência, é evidente que Jesus não veio na época predita pelos profetas;
pois eles previram que o advento do Messias aconteceria nos últimos dias. Veja
Isaías 2, 2: “E acontecerá que, nos últimos dias, a montanha da casa do Senhor
será estabelecida no topo dos montes” etc. Além disso, lemos lá, no versículo
4, sobre o rei Messias: “E ele julgará entre as nações e arbitrará entre muitas
pessoas, e elas transformarão suas espadas em arados e suas lanças em podas” etc.
Assim é também registrado nas Escrituras sobre as guerras de Gog e Magog, que
devem ocorrer no tempo do rei Messias. Vide Ezequiel 38, 8: “Depois de muitos
dias você será chamado às armas. Em anos futuros você invadirá uma terra que se
recuperou da guerra”, como será explicado no lugar apropriado. O mesmo é
evidente em Oséias 3, 5: “Depois os filhos de Israel retornarão e buscarão o
Senhor seu Deus e Davi, seu rei, e reverenciarão o Senhor e Sua bondade nos
últimos dias”. Assim lemos também em Daniel 2, 28: “E (Deus) fez saber ao rei
Nabucodonosor o que acontecerá nos últimos dias”. Esta passagem refere-se à
profecia subsequente (versículo 44): “E nos dias destes reis o Deus do céu
estabelecerá um reino que nunca será destruído e cuja soberania não será
deixada a outras pessoas” etc. Vemos claramente que os profetas predisseram que
a vinda do verdadeiro Messias aconteceria nos “últimos dias” e não antes.
Em quarto lugar, temos
que considerar as promessas contidas nas palavras dos profetas que não foram
cumpridas no tempo de Jesus mas devem ser realizadas no futuro, no tempo do
verdadeiro Messias, que ainda é esperado. Essas profecias podem ser
classificadas em grupos:
a) Na época do rei
Messias deve haver apenas um reino e um rei, a saber, o verdadeiro rei Messias.
Os outros impérios e seus governantes cessarão nesse período, como lemos em
Daniel 2,44: “E nos dias destes reis o Deus dos céus estabelecerá um reino que
nunca será destruído; e o reino não será abandonado a outras pessoas, mas ele
deve quebrar em pedaços e consumir todos esses reinos, e permanecerá para
sempre”. Considere que nós agora realmente vemos que muitos impérios,
diferentes em suas leis e hábitos, ainda existem e que em cada império um rei
diferente está governando; consequentemente, o Messias ainda não chegou.
b) No tempo do rei
Messias, deve haver no mundo apenas um credo e uma religião, e essa é a
religião de Israel, como é provado por Isaías 52, 1: “Desperta, desperta, veste
a tua força, ó Sião, veste as tuas belas vestes, ó Jerusalém, a cidade santa;
pois nunca mais entrará em ti os incircuncisos e os imundos”. E mais adiante
(capítulo 66, 17), “Os que se consagram para entrar nos jardins indo atrás do
sacerdote que está no meio, comem carne de porco, outras coisas repugnantes e
ratos, todos eles perecerão, declara o Senhor”. E diz o versículo 23: “E será
que, de uma lua nova a outra e de um sábado a outro, virá toda a carne e
adorará perante mim, diz o Senhor”. Além disso, está escrito em Zacarias (14,16):
“E acontecerá que todo aquele que restar de todas as nações que vieram contra
Jerusalém, subirá de ano em ano para adorar o Rei, o Senhor dos exércitos, e
para celebrar a festa dos tabernáculos. No mesmo livro (capítulo 8, 23), lemos:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Nesses dias ocorrerá que dez homens de
nações de línguas diversas agarrarão a orla da roupa de um judeu, dizendo: Nós
iremos contigo, porque ouvimos que Deus está contigo”. Há muitas outras
passagens nesse livro com o mesmo efeito.
c) No tempo do Messias,
as imagens e monumentos idólatras, como também os falsos profetas e o espírito
de profanação devem desaparecer da terra, como pode ser visto em Zacarias 13, 2:
“E acontecerá naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, que tirarei da terra os
nomes dos ídolos, e deles não haverá mais memória; e também farei sair da terra
os profetas e o espírito da impureza”. Assim também está escrito em Isaías 2,18:
“E os ídolos ele deve abolir totalmente”. Assim também é dito em Sofonias 2,11:
"O SENHOR será terrível para eles, pois fará que todos os deuses da terra
se acabem, e os homens O adorarão, cada um do seu lugar, até mesmo todas as
ilhas dos gentios”.
d) Na época do Messias,
não haverá pecados e iniquidades no mundo, particularmente entre a nação
israelita. Assim encontramos na lei (Deuteronômio 30, 6): “E o Senhor teu Deus
vai circuncidar o teu coração e o coração da tua descendência a amar o Senhor
teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, para que possas viver”. Mais
uma vez, em Sofonias 3, 13: “O resto de Israel não fará iniquidade, nem
proferirá mentiras, nem língua enganosa será achada em sua boca”. Novamente, em
Jeremias 3, 17: “Naquele tempo, chamarão a Jerusalém o trono do Senhor, e todas
as nações se reunirão nela, em nome do Senhor, em Jerusalém, e não andarão mais
após a imaginação do seu coração maligno”. Novamente, em Ezequiel 36,25: “E eu
borrifarei água limpa sobre ti; de toda a tua impureza e de todos os teus
ídolos eu te purificarei. E eu te darei um novo coração, e um novo espírito eu
porei dentro de ti, e tirarei o teu coração de pedra e te darei um coração de
carne, e porei o meu espírito dentro de ti, e te farei andar nos meus
estatutos, e guardareis meus juízos e os cumprireis”. Além disso, veja Ezequiel
37, 23: “E não mais se contaminarão com os ídolos nem com as suas abominações,
nem com as suas transgressões, e os salvarei de todas as suas moradas onde
pecaram, e os purificarei, e eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus, e
Davi meu servo será rei sobre eles, e eles terão um pastor, e eles devem andar
nos meus juízos e observar os meus estatutos e fazê-los”.
e) Na época do rei
Messias e depois da guerra com Gog e Magog haverá paz e tranquilidade em todo o
mundo, e os homens não precisarão mais de armas de guerra. Assim está escrito
em Isaías 2: 4: “E eles converterão as suas espadas em arados, e as suas lanças
em ganchos; a nação não levantará a espada contra nação, nem aprenderão mais a
guerra”. Veja também Ezequiel 39, 9, “E os habitantes das cidades de Israel
sairão, e acenderão o fogo, e queimarão as armas, e os escudos e as rodelas,
com os arcos, e com as flechas, e com os bastões de mão, e com as lanças; e
acenderão fogo com elas por sete anos”. E o versículo 10: “E não trarão lenha
do campo, nem a cortarão dos bosques, mas com as armas acenderão fogo; e
roubarão aos que os roubaram, e despojarão aos que os despojaram, diz o Senhor
DEUS”. Com estas palavras concorda a profecia de Oséias (2, 20) de acordo com a
divisão de capítulos nas Bíblias hebraicas (na versão em inglês é o capítulo 2,
versículo 18): “E naquele dia farei por eles aliança com as feras do campo, e
com as aves do céu, e com os répteis da terra; e da terra quebrarei o arco, e a
espada, e a guerra, e os farei deitar em segurança”. Assim diz também Zacarias
9,10: “e o arco de guerra será destruído, e ele anunciará paz aos gentios” etc.
f) Na época do rei Messias haverá paz na Terra Santa entre os animais ferozes e domésticos, de modo que eles não prejudiquem uns aos outros e muito menos prejudiquem um ser humano, como é evidente nas seguintes profecias: Isaías 11, 6-9 diz "E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará.A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi.E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar". Isaías 65,25 diz "E o lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente e não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor". Veja também Ezequiel 34,25: "E farei com elas uma aliança de paz, e acabarei com as feras da terra, e habitarão em segurança no deserto, e dormirão nos bosques". Diz o versículo 28: "E eles não mais serão presa das nações, nem os animais da terra os devorarão" etc. Veja também Oséias 2,20 (nas versões cristãs, v. 18): "E naquele dia eu farei uma aliança em favor deles com as feras do campo, e com as aves do céu, e com as coisas rastejantes da terra" etc.
g) No tempo do Messias não haverá problemas, preocupações e ansiedades entre os israelitas restaurados, que serão então abençoados com uma vida prolongada e mais feliz, como é predito nas seguintes passagens de Isaías (65, 16): “Assim que aquele que se bendisser na terra, se bendirá no Deus da verdade; e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos”. Diz o versículo 19: “E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo, e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor”. Versículo 20: “Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; porém o pecador de cem anos será amaldiçoado”. Versículo 21: “E edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto”. E edificarão casas e as habitarão, e eles plantarão vinhedos e comerão o fruto deles”. Finalmente, diz o versículo 22: “Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus eleitos gozarão das obras das suas mãos”.
h) No tempo do Messias,
a Shechiná (refulgência da presença divina) retornará a Israel como nos dias
anteriores e o povo de Israel crescerá em profecia, sabedoria e conhecimento,
como pode ser visto por meio das seguintes citações dos profetas: (Ezequiel 37,
26-28) “E farei com eles uma aliança de paz; e será uma aliança perpétua. E os
estabelecerei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles para
sempre.E o meu tabernáculo estará com eles, e eu serei o seu Deus e eles serão
o meu povo.E os gentios saberão que eu sou o Senhor que santifico a Israel,
quando estiver o meu santuário no meio deles para sempre”. (Ezequiel 39,29): “Não
mais esconderei o meu rosto deles, pois derramarei o meu Espírito sobre a casa
de Israel, diz o Senhor Deus”. Capítulo 43, 7: “E disse-me: Filho do homem,
este é o lugar do meu trono, e o lugar das plantas dos meus pés, onde habitarei
no meio dos filhos de Israel para sempre”. Capítulo 48,35: “E o nome da cidade
a partir daquele dia será 'O Senhor está lá'”. Joel 2, 27 diz: “E sabereis que
eu estou no meio de Israel e que eu sou o Senhor teu Deus, e não há outro, e o
meu povo nunca se envergonhará”. Diz o mesmo profeta (3,1 ou 2, 28 nas versões
cristãs): “E acontecerá depois que derramarei o meu espírito sobre toda a carne.
E vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão sonhos, os
vossos jovens terão visões”. E no versículo 3,17: “Assim sabereis que eu sou o
Senhor teu Deus que habita em Sião o meu santo monte: então Jerusalém será
santa e não mais estranhos passarão por ela”. Semelhantemente, no v. 21: “E
purificarei o sangue dos que eu não tinha purificado; porque o Senhor habitará
em Sião”. Zacarias 2, 14 (nas versões cristãs, 2,10) diz: “Cantai e exultai, ó
filha de Sião, porque eis que venho e habito no meio de ti, diz o Senhor”. Diz Isaías
11, 9: “Porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas
cobrem o mar”. Em Jeremias 31, 34, lê-se: “E eles não ensinarão mais cada homem
a seu vizinho e cada homem a seu irmão, dizendo ‘Conhece o Senhor’, porque todos
eles me conhecerão, desde o mais baixo deles até o mais alto, diz o Senhor, pois
perdoarei a iniquidade deles e não mais me lembrarei de seus pecados”.
As indicações acima,
apontadas pelos profetas como atributos indispensáveis do verdadeiro Messias,
não foram cumpridas em Jesus, o Nazareno. Não temos até agora visto os
cumprimentos das profecias citadas, ou de muitas outras que omitimos para
evitar a prolixidade. Portanto, chegamos à conclusão de que o verdadeiro e
esperado Messias ainda não chegou. Somente nele todos os atributos preditos
serão manifestamente reconhecidos e através dele, e de nenhuma outra maneira,
as promessas das escrituras serão cumpridas.
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