domingo, 24 de fevereiro de 2019

Parte 1, Capítulo 17 - Espera-se que Israel não tenha restauração do atual exílio? (Lv 26, 42)


Alguns teólogos cristãos afirmaram que as maldições encontradas em Levítico 26, 42 dizem respeito à destruição do Primeiro Templo e, portanto, são acompanhadas pelas palavras consoladoras “E me lembrarei do pacto com Jacó e também do meu pacto com Isaque, e também o meu pacto com Abraão me lembrarei, e me lembrarei da terra”. Eles vem de modo semelhante a passagem “E eu me lembrarei do primeiro pacto que os tirei do Egito diante dos olhos das nações para ser seu Deus; Eu sou o Senhor”. Os cristãos associam este texto ao período do Segundo Templo e dizem que a redenção mencionada alude ao cativeiro na Babilônia. Finalmente, eles afirmam que as maldições subsequentes contidas em Deuteronômio 28 referem-se à demolição do Segundo Templo e, portanto, não são acompanhadas por palavras consoladoras, pois Israel não deve ter nenhuma restauração que o livre do atual exílio.

Refutação - As Escrituras não autorizam a suposição de que as maldições mencionadas anteriormente se referem apenas à destruição do Primeiro Templo. As advertências contidas em Levítico em relação à primeira aliança, embora se refiram principalmente ao Primeiro Templo, em cujo período o cativeiro começou, incluem também a destruição do Segundo Templo e as aflições sofridas por Israel no atual cativeiro. Ao mesmo tempo, percebemos que as maldições contidas em Deuteronômio mencionam fatos relativos exclusivamente à primeira destruição. Entre as maldições mencionadas em Levítico 26, 31 lemos: “E destruirei os vossos santuários”. A última palavra no plural deve evidentemente ser entendida como incluindo o primeiro e o Segundo Templo. A palavra santuários não se refere a palácios, uma vez que a passagem em Levítico prossegue, dizendo: “E eu não vou sentir o cheiro de seus aromas agradáveis”. Portanto, naturalmente aponta-se para os sacrifícios oferecidos nos santuários. Assim também dizem as maldições contidas em Deuteronômio 28,25: “O Senhor te fará cair diante dos teus inimigos; por um caminho sairás contra eles, e por sete caminhos fugirás de diante deles, e serás espalhado por todos os reinos da terra”. Isto, indubitavelmente, não aconteceu durante o tempo do Segundo Templo, pois então os judeus prevaleceram e os romanos sofreram uma derrota total, como é relatado por José Ben Gurion. Os próprios escritores romanos reconhecem evidentemente este fato. A profecia, no entanto, foi cumprida durante o tempo do Primeiro Templo. Ver Isaías 22, 3: “Todos os teus governadores juntamente fugiram, foram atados pelos arqueiros; todos os que em ti se acharam, foram amarrados juntamente, e fugiram para longe”. Além disso, se dissermos que há dois cativeiros, devemos também dizer que há dois resgates! Ou seja, o primeiro já ocorrido, na construção do Segundo Templo, e o segundo, esperado em um período futuro. E que homem de bom senso pode acreditar que a redenção do Segundo Templo foi uma completa redenção, uma vez que as Dez Tribos não se juntaram em retorno a Jerusalém? Havia apenas 42.360 homens de Judá e Benjamim, que aproveitaram a permissão dada por Ciro, rei da Pérsia, enquanto a maioria ainda permanecia na Babilônia. Nem se pode dizer que aqueles que retornaram a Jerusalém gozavam de plena independência, pois quando se estabeleceram ali, foram tributários dos medos e persas, como é relatado em Neemias 9, 36: “Eis que hoje somos servos; e até na terra que deste a nossos pais, para comerem o seu fruto e o seu bem, eis que somos servos nela. E ela multiplica os seus produtos para os reis, que puseste sobre nós, por causa dos nossos pecados; e conforme a sua vontade dominam sobre os nossos corpos” etc. Subsequentemente, as crueldades experimentadas provinham dos gregos e depois dos romanos. Embora os judeus às vezes se rebelassem e nomeassem seus próprios reis, ainda não havia nenhum governante sobre eles da posteridade de Davi, coroando a restauração final. Os hasmoneanos eram da tribo de Levi e membros do sacerdócio e eles foram sucedidos por Herodes e seus descendentes até a ruína do Segundo Templo, como mencionamos acima.

A inferioridade do Segundo Templo também pode ser indicada pela ausência da Arca, do propiciatório, dos Querubins, do Urim, dos Tumim e da Shechiná (Manifestação da Presença Divina). O templo foi privado da Shechiná e, como decorrência, todas as profecias cessaram, e os antigos milagres não foram mais testemunhados. Sob essas circunstâncias, como se pode afirmar que a redenção de Israel estava completa? Nós devemos antes reconhecer que o Senhor excitou a compaixão no coração dos conquistadores de Israel, e despertou a mente de Ciro para conceder permissão aos judeus para retornarem a Jerusalém, para reconstruírem o templo, servirem ao Senhor e serem libertados de seus escravidão.

Assim, vemos que as consequências do cativeiro original ainda subsistiam quando do retorno da Babilônia. Embora Herodes, depois de cometer um grande derramamento de sangue entre os sábios e os piedosos de Israel, tenha construído um esplêndido e magnífico Templo, ainda assim não é de se duvidar que Herodes estivesse o tempo todo submetido aos romanos e mantivesse seu trono sob a autoridade deles. Tudo isso tende a mostrar que o cativeiro continuou desde o dia da destruição do Primeiro Templo por Nabucodonosor até o tempo presente! A aparente omissão, em Deuteronômio 28, de consolações e semelhantes promessas, tais quais são apresentadas em Levítico no final das maldições, pode ser facilmente explicada, visto que na passagem de Deuteronômio as palavras da aliança não estavam completas. Imediatamente após as denúncias, Moisés reuniu os israelitas para estabelecer o pacto com eles enquanto estavam diante do Senhor. Por isso lemos em Deuteronômio 29, 11 [29, 12]: “Para entrardes na aliança do Senhor teu Deus, e no seu juramento que o Senhor teu Deus hoje faz convosco”. Moisés acrescenta neste capítulo os juramentos do pacto, além dos que foram mencionadas capítulo anterior de Deuteronômio. Depois de colocar diante deles o pavor das calamidades, ele une a mais enfática consolação e promessa de perfeita redenção. Veja Deuteronômio 30, 1-10: “E será que, sobrevindo-te todas estas coisas, a bênção ou a maldição, que tenho posto diante de ti, e te recordares delas entre todas as nações, para onde te lançar o SENHOR teu Deus, E te converteres ao Senhor teu Deus, e deres ouvidos à sua voz, conforme a tudo o que eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, com todo o teu coração, e com toda a tua alma, Então o Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todas as nações entre as quais te espalhou o Senhor teu Deus. Ainda que os teus desterrados estejam na extremidade do céu, desde ali te ajuntará o Senhor teu Deus, e te tomará dali; E o Senhor teu Deus te trará à terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te fará bem, e te multiplicará mais do que a teus pais. E o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas. E o Senhor teu Deus porá todas estas maldições sobre os teus inimigos, e sobre os que te odiarem, que te perseguirem. Converter-te-ás, pois, e darás ouvidos à voz do Senhor; cumprirás todos os seus mandamentos que hoje te ordeno. E o Senhor teu Deus te fará prosperar em toda a obra das tuas mãos, no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto da tua terra para o teu bem; porquanto o Senhor tornará a alegrar-se em ti para te fazer bem, como se alegrou em teus pais, Quando deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei, quando te converteres ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma”.

Assim, vemos que esta previsão está aguardando cumprimento, uma vez que os detalhes contidos na citação acima não ocorreram durante o tempo do Primeiro ou do Segundo Templo. Ao mesmo tempo, descobrimos nas passagens ditas toda consolação que a esperança pode sugerir, pois o texto aponta ao mesmo tempo para nossa restauração e para a redenção de nossas almas: uma redenção que é a mais verdadeira libertação de todas as dificuldades, o benefício e a coroação de todas as aspirações humanas! A promessa em relação ao nosso futuro estado supera de longe a promessa dada em Levítico, que alude apenas à nossa restauração política. Há certamente uma alusão distante à restauração divina ocorrida com o Segundo Templo. Todavia, como a liberdade total nunca brilhou sobre aqueles que subiram, como demonstramos clara e incontestavelmente, devemos necessariamente concluir que as maldições contidas no Deuteronômio serão sucedidas por aquelas bênçãos superlativas e extensas que uma restauração futura e universal produzirá para Israel!

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