sexta-feira, 1 de março de 2019

Parte 1, Capítulo 28 - Prevista a matança dos inocentes por Herodes? (Jr 31, 15)


Jeremias 31, 15 diz: “Assim diz o Senhor: Uma voz se ouviu em Ramá, lamentação, choro amargo; Raquel chora seus filhos; não quer ser consolada quanto a seus filhos, porque já não existem”.

Os cristãos enxergam essa passagem como uma profecia relacionada a eventos que têm a ver com seu credo, como se Jeremias tivesse previsto aqui o assassinato das crianças em Belém, decretado pelo rei Herodes. Sobre esse rei é dito que apresentaram que em Belém de Judá havia nascido um menino que deveria ser no futuro um rei dos judeus e, como Herodes não podia determinar quem era o futuro pretendente e onde encontrá-lo, ele ordenou matar todas as crianças menores de dois anos em Belém. O Cristianismo diz que a isso se referem as palavras citadas acima, como o leitor encontrará ao examinar Mateus 2.

Refutação: em uma ocasião anterior, mostramos que os cristãos apoiam a doutrina de sua religião através de sentenças bíblicas totalmente separadas de seus contextos e conexões, sem levar em conta a concordância de todo o parágrafo mencionado em suas citações. Se, de acordo com suas suposições, Raquel estava chorando pelo massacre impiedoso cometido contra os filhos de Belém de Judá, surge a pergunta: por que não foi Lea a representada como a mãe enlutada, pois foi dela que aquelas vítimas da tirania de Herodes foram descendentes (Sendo Lea a mãe de Judá)? Outra questão surge: que conexão tem o luto de que se fala com as promessas consoladoras dadas pelo Senhor? Jeremias 31, 16-17 diz: “Assim diz o Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de teus olhos; porque há galardão para o teu trabalho, diz o Senhor, pois eles voltarão da terra do inimigo. E há esperança quanto ao teu futuro, diz o Senhor, porque teus filhos voltarão para os seus termos”.

A seguinte explicação da passagem, no entanto, é coerente com o contexto: - O profeta fala aqui alegoricamente. As crianças aludidas aqui são as dez tribos no exílio. Essas dez tribos (“do Norte”) estão compreendidas em todos os livros proféticos sob a designação de Efraim (a tribo descende de Raquel); portanto, Raquel está chorando por seus filhos que foram expulsos de seu país pelos reis da Assíria. As dez tribos eram chamadas Efraim porque o seu primeiro rei, após a sua deserção do rei de Judá, era Jeroboão, filho de Nebate, da tribo de Efraim. Isto é confirmado pela predição de Jeremias 7, 15: “E eu te expulsarei da minha presença, como lancei todos os teus irmãos, toda a descendência de Efraim”.

A última palavra hebraica do versículo citado no começo deste capítulo (Jeremias 31, 15), é “enênu”, que, na realidade, não significa que “eles não serão encontrados”, mas sim que ele não será encontrado, porque o singular se relaciona aqui com a palavra “povo”, que está implícita. Pois quando as tribos de Judá e Benjamim retornaram do cativeiro da Babilônia, as dez tribos não voltaram com elas, nem o local de seu povoamento permaneceu totalmente conhecido. Por esta razão, o número total de pessoas desaparecidas é expresso no singular, aludindo à restauração de todo o povo nos dias do Messias. O profeta Jeremias continua, em nome de Deus (31, 16-17): “Assim diz o Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de teus olhos; porque há galardão para o teu trabalho, diz o Senhor, pois eles voltarão da terra do inimigo. E há esperança quanto ao teu futuro, diz o Senhor, porque teus filhos voltarão para os seus termos”. Esses versículos, todos ligados uns aos outros, fornecem a prova mais inteligível de que o profeta não aludia à morte dos filhos de seu povo, mas à sua dispersão. Por essa interpretação podemos dar sentido ao versículo 18 do mesmo capítulo: “Bem ouvi eu que Efraim se queixava, dizendo: Castigaste-me e fui castigado, como novilho ainda não domado; converte-me, e converter-me-ei, porque tu és o Senhor meu Deus”. Também diz o versículo 20: “Efraim, meu querido filho, não é ele meu filho querido?”. E mais uma vez, no verso 21: “Levanta para ti sinais, faze para ti altos marcos, aplica o teu coração à vereda, ao caminho por onde andaste; volta, pois, ó virgem de Israel, regressa a estas tuas cidades”. Estas palavras referem-se ao retorno dos cativos de Israel. O último e completo retorno das tribos de Israel também foi predito por Ezequiel 37, 19: “Tu lhes dirás: Assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu tomarei a vara de José que esteve na mão de Efraim, e a das tribos de Israel, suas companheiras, e as ajuntarei à vara de Judá, e farei delas uma só vara, e elas se farão uma só na minha mão”. Este capítulo aponta para a restauração e reunião das dez tribos com as tribos de Judá e Benjamim, assim como sua subordinação a um único rei nos dias do Messias.

Em uma parte anterior deste trabalho, notamos que a restauração das dez tribos não foi planejada para acontecer no retorno do cativeiro da Babilônia, e que no total apenas 42.000 pessoas voltaram para a Terra Santa.

Certos cristãos afirmaram que o nome de Israel, mencionado em partes específicas das Escrituras que se relacionam com a restauração, é restrito às dez tribos, mas isto não é verdade, porque está escrito que Israel será lembrado pela tribo de Judá. Veja Jeremias capítulo 30, 19: “Eis que eu tomarei a vara de José que esteve na mão de Efraim, e a das tribos de Israel, suas companheiras, e as ajuntarei à vara de Judá, e farei delas uma só vara, e elas se farão uma só na minha mão”. E no mesmo livro, capítulo 23, 6, encontramos: “Nos seus dias Judá será salvo e Israel habitará em segurança”. Amós 2 fala primeiro das três transgressões de Israel, e depois daquelas de Judá, ou seja, Israel denota aqui as dez tribos. Mas quando o nome Israel ocorre sozinho, inclui também as duas tribos de Judá e Benjamim, sendo o nome coletivo usado em nome de todo o povo.

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